Segunda-feira, 29 de Setembro de 2008

Mariana

Nunca pretendi conhecer pessoalmente mais ninguém que se tivesse cruzado comigo por estas coisas da net. A história com o Guilherme tinha-me servido de emenda. E se por vezes "convidava" o misterioso e eterno desconhecido para um copo, era porque andava curiosa.

Conversava muito com o João . Passávamos horas à noite a conversar. Ele era tão interessante, tão inteligente. E tinha coisinhas que me pareciam impossíveis para a idade dele, como gostar de Elis Regina, Tom Jobim, Seu Jorge...Um dia estávamos a conversar e disse-me : " Estou aqui a bater o pé ao som da música " Águas de Março". Adoro".

Muito naturalmente  e sem me aperceber comecei a gostar muito dele. Eu falava-lhe do Guilherme e do "João" e do quanto me sentia magoada e infeliz . Era estudante na faculdade de Belas Artes do Porto. Surgiu em nós uma cumplicidade que não consigo exprimir por palavras. Quando senti o quanto estava envolvida com ele tentei fugir, porque afinal ele tinha 20 anos, idade para ser meu filho. Aquelas coisas que a sociedade nos vai impondo.

Era um disparate. Tinha saído de uma situação que me tinha deixado tão vulnerável e já me estava  a meter noutra. Seria possível que nunca mais ganhava juízo e me deixava dessas "merdas"?

Pedi-lhe para nos afastarmos. Que me andava a fazer bem falar com ele mas ao mesmo tempo me deixava muito ansiosa, porque não pretendia conhecê-lo e uma vez mais sentia que estava a viver num mundo de fantasia.

Disse-me que se era isso que eu queria, respeitava e não falava mais comigo, mas que ia ter muitas saudades e que só de pensar que "me ia perder" se sentia muito só, angustiado e com "uma dor no peito".

Combinámos então ir falando, e senti que tanto eu como ele tínhamos ficado mais próximos.

Um dia, fui "espreitar" a página dele de Hi5. Vi lá um comentário de resposta da tal "Mariana" . Quando entrei na página dela, fiquei louca de ciúmes com um comentário dele : "...Não há passos divergentes quando duas pessoas se querem encontrar...". 

Enviei-lhe sms e disse-lhe que não me contactasse mais. E perguntei-lhe afinal quem era para ele a "Mariana". 

Seria mesmo um "miúdo" de 20 anos? A "Mariana" também tinha mais ou menos a minha idade. Que merda! Só me metia em porcaria. Ia-me deixar daquelas merdas.

Respondeu-me que não era nada do que eu imaginava. Que estava arrependido de lhe ter enviado aquele comentário. Que, apesar de não me conhecer pessoalmente, me adorava. Desliguei o telemóvel. Eram 3 ou 4 da tarde.Estive 4 horas incontactável.

À noite liguei-o. Estava "entupido" de chamadas e sms dele. Apaguei tudo e nem sequer lhe dei a oportunidade de as ter lido.

Fui à página de Hi5 reler tudo e ver se havia outras anteriores entre eles. Já não estava lá o comentário na página da "Mariana". Eu tinha mensagens dela na minha página...

 

 

 


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Segunda-feira, 22 de Setembro de 2008

A mulher, a amiga e o amante dela

A Maria, a minha melhor amiga, tinha arranjado um namorado.

Andava muito empolgada com ele. Tinha frequentado um workshop de pintura e ele era o professor. Mostrava-me centenas de fotos dela que era ele que à socapa lhe tirava lá no workshop. Qualquer mulher adora a atenção de um homem e ela não era excepção, ainda mais por um homem ligado ás artes, que são a paixão dela.

Não fazia mais nada que me falar nele. Que não sabia o que fazer, já que era um pouco mais velho, estava separado da mulher, mas ainda não estava divorciado. Parece que era por causa dos bens em comum, que eram muitos...

Eu claro, não o conhecia, mas à partida, disse-lhe para não fazer muitos planos, já que era casado. E mantive-me sempre à distância dessa relação, mas sempre perto dela.

Ainda não tinham estado juntos, mas um dia zangaram-se mesmo a sério. Pediu-me, porque tanto um como o outro estavam muito mal, que o conhecesse pois queria saber o que eu achava dele.  Combinou um café entre nós pois achava que eu ia saber explicar-lhe porque é que eles tinham que acabar.

Enfim...Eu na altura era mesmo a pessoa indicada...

Ele conhecia-me de fotos e eu igual. Mas achei-o pequenino. "A Maria é muito mais alta!", pensei assim que sorriu para mim e vi que era ele.

Olhei com atenção para as expressões enquanto falava e reconheci-me. Uma angústia por a ter perdido ! Os olhos brilhavam quando falava nela e parecia que iam brotar lágrimas quando imaginava o fim da "história" deles. Lembro-me que lhe disse que tinha que entender que ela não queria assumir nada porque ele era casado, mas que sabia perfeitamente o que sentia.

Pronto! Tarefa cumprida! Conheci-o e teria que lhe dizer o que achei.

Disse-lhe que sem dúvida gostava dela, mas que era ela que tinha que decidir se levava a história adiante porque de facto ele era casado e não pretendia num futuro muito próximo alterar essa condição. Foi o que achei. Um homem quando está anos para se divorciar e não o faz por "conveniências" materiais, optando por fazer uma vida paralela não é de confiar. Confidenciou-me que já tinha tido outras mulheres. A Maria sabia disso, porque quando lhe disse, até me disse que uma das conquistas era muito linda...

Bem, mais valia ter estado quietinha no meu canto.

Só sei que passados uns 2 ou 3 dias ela me ligou muito entusiasmada. Que ia dormir com ele a casa dele.

" E a mulher?"

" Parece que foi passar uma semana ao Alentejo"

Bem, ela é que sabia. Nem sequer disse nada.

No dia seguinte, estava felicíssima.

"Ele é uma bomba!". "Ele acha que és uma Santa!". "Faz questão que venhas cá um dia jantar connosco!"

"Pois, era semana de festa para eles!" (Mulher fora, semana santa na loja)

Disse-lhe que iria uma noite, sim senhor.

E fui. Eram aí umas 22 ou 23 horas.

Que enorme recepção ele me fez! Tudo "afrodisíaco" ! Búzios, camarão, bom vinho verde, pastas de tudo e mais alguma coisa...

Só o conheci verdadeiramente depois quando falávamos no msn. Parece que era muito possessivo com a Maria. Ela começou a andar cansada dele e a fugir. Dizia-lhe muitas vezes que tinha saído comigo, algumas que eu nem sabia. Quando me apercebi, pedi-lhe para me dizer sempre que lhe mentia, pelo menos para eu saber, pois ligava-me para o telemóvel.

"Mas o que tens que lhe dar explicações onde estás ou não?". "Porra, o gajo é que é casado!"

"Não o conheces! É tão possessivo e tacanho!"

Comecei a ter que gramar com ele, a perceber os seus joguinhos para tentar tirar-me nabos da púcara. O gajo tirava-me do sério!

Até que começou a tentar "cortejar-me " a mim. Que ela era muito complicada. Disse-me depois a Maria:

"O António acha-te muito sensual! Só queria que visses a doideira quando foste jantar a casa dele!"

Bem, descodifiquei uma série de coisas estranhas que me andavam a acontecer na net...

Era o António, de certeza ! Mas não disse nada à Maria, pois aquilo já durava há muito tempo, ainda estavam eles bem.

Confrontei-o com aquilo e não negou. Antecipou-se a mim a contar à Maria. "Sabes, era só para ver se dava conversa aos homens que se metiam com ela na net..."

Bem, assinou a sua "sentença de morte". Disse-lhe que não lhe admitia esses jogos, ainda mais porque o tinha como um grande amigo e ele sabia bem que sempre tinha tentado minimizar entre eles a porcaria que ele fazia. Pediu-me desculpa milhões de vezes. Era a minha oportunidade de acabar a "amizade" com uma pessoa tão "tacanha" e pouco inteligente como ele era ( apesar da bagagem que tinha).

A Maria ainda continuou a "aturá-lo", mas aproveitei a deixa e nunca mais falei com ele...sem ser para lhe perguntar se era o tal joaocosta32@hotm... que me tinha adicionado, apesar de ter sido antes de me ter chateado com ele.

 

 

 


publicado por darkbook às 17:45
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Quinta-feira, 18 de Setembro de 2008

Noite de terror

Não sei como aguentava.

Ainda hoje sinto "arrepios" quando me lembro.

O Alexandre, julgando que a minha vida corria ás mil maravilhas, sentia "prazer" em me fazer pagar por todos os males que lhe causei. Revi toda a minha vida anterior quando era casada com ele e senti de novo o " terror" das noites que passava nessa altura. Ele sabia o que me afectava, apesar de eu demonstrar durante o dia que tudo corria bem.

Eu de manhã fazia-o entender, por vezes até à rouquidão, que se queria ajuda minha e se queria o amor e o respeito dos filhos, tinha que nos deixar em paz. Talvez não fosse fácil para ele viver longe dos filhos. Eu, enquanto casados, tinha-lhe oferecido uma vida de servidão. Nunca soube o que era ter um marido presente, que fizesse compras comigo, que levasse os filhos à escola, que me acarinhasse e principalmente nos últimos anos de casados que me respeitasse. Eu tinha sido um "bibelôt" e um "troféu" que ostentava em casa. Nunca soube o que era pagar uma conta da água, da electricidade, um prestação do crédito á habitação, o preço da carne, do leite...Nada. Também tinha sido um pai ausente, apesar de gostar e ter muito orgulho nos filhos. Mas era a "Ana" que estava com eles sempre nos bons e principalmente nos maus momentos.

Gritava com ele : "Tu deixaste que te traísse, foste um mau marido. Assumi a minha culpa e estou a pagar pelo erro que fiz, mas não posso apagar o que aconteceu.Por favor deixa-me em paz !" .

Ele estava com outra pessoa. Agora tentava fazer com ela tudo o que nunca fez comigo. Ela tem um filho de 5 anos, que é ele que leva à escola. Os meus filhos podiam agora ficar magoados, porque a eles nunca o fez. Mas não, todos queríamos que fosse feliz! Ainda hoje!

Tão maquiavélico, até a pensão de alimentos que o juiz queria que fosse feita por transferência bancária, pediu para ficar escrito que podia ser em dinheiro, para eu não ter provas, já que passados 3 anos nem 1 cêntimo eu vi. Não me importo. Sei que fui eu que pedi o divórcio. Assumi que o tinha traído. Mas os nossos filhos não têm culpa. Ele também me traiu, de várias formas. 

Uma noite, passou dos limites.

Eu tinha medo dele e nunca desligava o telemóvel . Preferia ouvir noites e noites os seus desabafos e ofensas, apesar dos meus filhos "ralharem" comigo:"Mãe, tu és a culpada de ele ser assim! Desliga os telefones todos e não lhe ligues que ele cala-se!" O meu filho mais velho já estava na Universidade e tinha medo, porque era o único que o Alexandre temia. O outro, coração mole, tinha pena dele. A minha filha igual. Só lhe ralhavam, que estavam fartos.

Uma noite em que o telemóvel não parava, avisei-o que o ia desligar. Ainda o ouvi gritar : "Se o desligares, vou aí a casa!"

Sabia que vinha, já não era a primeira vez, mas agora os meus filhos tinham-lhe tirado as chaves todas e para meu alívio o meu filho mais velho estava em casa.

Tentei dormir. Passaram umas 2 horas e ele não veio. Talvez se tivesse deixado disso...Peguei no sono.

Eram umas 5 da manhã, senti uma respiração leve. Sobressaltada, de um salto, acendi a luz e levantei-me.

Estava sentado ao meu lado com os olhos "esbugalhados" de ódio e com uma toalha na mão.

Gritei pelo meu filho.

Ele desceu imediatamente do 1º andar. Senti um medo terrível e ao mesmo tempo uma pena enorme do Alexandre (que não demonstrei). Os meus outros filhos acordaram logo.

"Pai? O que querias fazer à mãe?"

"Nada, acham que lhe ìa fazer alguma coisa? Era só para falar com ela."

"Onde foste buscar a chave? Tens mais alguma?"

Depois confrontamo-lo com os factos.

O cão não ladrou. Ele deixou o carro a 500 metros de casa e foi a pé. Não acendeu luz nenhuma. O meu filho ainda estava acordado e não sentiu absolutamente barulho nenhum. A toalha não era minha. Tinha-a trazido de casa.

"Pai, é muito estranho". " Que querias fazer à mãe?"

"Juro, filhos, juro que não queria fazer nada à mãe!"

No meio do medo que senti fiquei com pena dele. Porque sou assim ? Só causo infelicidade a toda a gente ...

 


publicado por darkbook às 15:44
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Segunda-feira, 8 de Setembro de 2008

S. Valentim

O meu divórcio corria. Pelo meio umas histórias meio aborrecidas, mas que ultrapassei.

Um dia o Alexandre ligou-me. Se me podia encontrar com ele num café da aldeia onde eu morava com os nossos 3 filhos. Estava mesmo a ver. Sempre viveu de aparências. Pretendia mostrar às pessoas que apesar de nos estarmos a divorciar, éramos bons amigos. De certa forma, sempre entrei no jogo dele. Agora acontecia o mesmo. De noite, ameaçava-nos que se ía suicidar ( várias noites fomos à procura dele) e durante o dia parecia estar tudo bem. Sei que talvez não o ajudássemos em agir durante o dia como se estivesse tudo bem, mas ao fim e ao cabo tinha pena dele (ainda hoje tenho) e era o pai dos meus filhos. Vivemos os nossos momentos, longínquos é certo.

Fui ter com ele. Quando cheguei já lá estava. Com uns gestos muito atrapalhados "escondeu" o telemóvel. Como se não o conhecesse. O propósito era que eu visse, claro.

Perguntei em tom de brincadeira (queria paz): "Então quem é a gaja?". Riu-se com ar de malandro e depois de 3 ou 4 vezes de dizer que não era nada nem ninguém, revelou-me o tal segredo.

Andava  a trocar sms com a Oxane, uma ucraniana que trabalhava num café ao lado da empresa. Pediu-me segredo. Eu explico: A Oxane era amante de um cliente nosso (casado), mas só nós dois sabíamos disso, e vivia com o pai do filho que tinha com 3 ou 4 anos (apesar de dizer que só vivia com ele para reduzir as despesas).

Fiquei muito feliz. Talvez me deixasse um bocado em paz. É lógico que com aquela revelação apenas pretendia mostrar-me que arranjava uma mulher rápido, que também não estava sozinho. Desconfiei daquele amor rápido, mas fiquei muito contente.

Mesmo assim não me deixou em paz, mas já tinha pontos a meu favor, porque estava sempre a ameaçar-me que até não sair o divórcio eu continuava a ser infiel, apesar de já estarmos separados desde o início de Janeiro de 2006.

No dia dos namorados, pediu-me ajuda.

O Luís vivia no apartamento sozinho e combinei com ele, com a Maria, a minha irmã, um amigo do Luís e o namorado da minha irmã irmos jantar fora.

Pediu-me que antes de sair, fôssemos buscar a Oxane a casa (onde vivia com o marido) e a deixássemos em casa dele.

Lá acedi.

Quando chegámos a casa dela, ficamos todas de "coração partido". Ela esperava-nos, claro. O marido tinha-lhe comprado um ramo de flores que nos ostentava muito vaidoso. Trocámos olhares, com imensa pena dele. Ficava a cuidar do filho de ambos e ela supostamente iria sair connosco.

Bem, depois de a deixarmos com ele, é escusado dizer que no restaurante onde nos esperavam, o Luís apareceu com um ramo de flores de fazer inveja a qualquer mulher que procurasse um homem romântico.

 

 


publicado por darkbook às 14:43
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Segunda-feira, 25 de Agosto de 2008

Dia seguinte

Agora era a vez de resolver o meu problema. Não queria saber como a Sílvia e o Luís iam resolver o problema deles. Tinha deixado claro que o que eu queria mais que tudo era divorciar-me, ficasse ele ou não com a Sílvia.

Cheguei a casa nessa manhã, levei os meus filhos mais velhos à escola ( A Rita ficava essa manhã em casa). O Miguel frequentava o 12º ano e o Francisco o 10º ano. Falei mais ou menos com eles o que se tinha passado, e que precisava deles à noite para falar com o Alexandre.

À noite, no fim do jantar, disse-lhe que precisávamos de falar. Os meus filhos ficaram comigo. Contei-lhe o que se passava com  a Sílvia, o que lá tinha ido fazer nessa noite, e que possivelmente estavam a discutir a vida deles.

Que me tinha envolvido com o marido da irmã e que não sabia se gostava ou não dele, mas que como era óbvio não queria mais continuar casada.

Ficou parvo, mas a única coisa que me perguntou foi: "Mas gostas de mim?".

"Não, não gosto".

Os meus filhos confirmaram-lhe que já sabiam que eu queria o divórcio e que era a melhor solução.

Nessa noite penso que ficou como que "anestesiado" e não houve discussão nenhuma. Acho que não fazia ideia que a minha decisão era irreversível e claro, não sabia do envolvimento que já tinha havido entre mim e o Luís.

Simplesmente agarrou numa mala de viagem e começou a arrumar roupas para levar para a outra casa de campo que tínhamos. Fiquei assustada como é óbvio. Ele era "louco" e imprevisível.

Não dormi nessa noite.

Sabia perfeitamente o que ia acontecer. Aquela família era um bocado assustadora.

 

 

 

 

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Noite longa e de mentira...

Naquela madrugada, em que fui chamada de urgência ao refúgio da Sílvia, perplexa, quase nem a reconheci. Tinha ido ao cabeleireiro, fez um corte radical, muito moderno. Roupa nova. Achei-a muito mais bonita, mas a tentar que não percebesse o desespero em que se encontrava. Aquele retiro, o que mais tarde confirmei, tinha apenas um único fim. Que o Luís lhe ligasse, lhe pedisse desculpa e fosse ter com ela e que lhe dissesse que tinha sido tudo um mal entendido. Que a amava, que tinha saudades. Era isso que pretendia. Como não aconteceu, ligou-me desesperada, porque mais ninguém sabia e queria esclarecer muitas coisas que lhe iam pela imaginação. Todos os pormenores, que eu claro não lhe podia contar...Para não a magoar e tentar (sim, era verdade) que ela resolvesse tudo com ele.

Esperou-me num parque, cujas indicações me tinha dado, e mostrou-me o hotel em que estava. Na praia, com vista para o mar. Fomos a um bar (ainda aberto áquelas horas da madrugada) e conversamos um pouco. Sobre nada do que me tinha levado lá. Só me dizia, com muita calma, tentando fazer-me sentir "abaixo" da condição dela (era licenciada e tudo!), que por vezes temos que mudar o visual e tal para nos sentirmos melhor e que eu devia fazer o mesmo. Dava-me dicas e tudo. E eu ouvia, estava curiosa onde ía chegar aquela conversa.

Fomos literalmente postas fora do bar, dada a avançada hora da madrugada.

Levou-me para o quarto e aí sim começou a sua transformação.

Se o Luís me tinha ligado, se estávamos em contacto, se estava preocupado com ela... "Porque não me ligou ainda?" 

Eu disse-lhe que sim , que me tinha ligado, que me tinha perguntado se eu sabia onde ela estava.

Na verdade isso aconteceu, no entanto não estava minimamente preocupado com ela. Achei-o muito frio, em relação aos sentimentos pela Sílvia. Só me tinha ligado milhões de vezes para me dizer que estava com saudades, que me amava, que ía sair de casa e tratar do divórcio assim que ela chegasse.

A Sílvia começou a entrar em "paranóia" . Queria saber todos os pormenores do que tinha acontecido. Se quando nos despedíamos ele me dava beijos "no canto da boca", para ninguém perceber, quantas vezes me ligava, em que dias e como nos encontrávamos. Do que falávamos, etc. Bombardeou-me.

Mas a imagem que guardo daquela noite, foi quando me pediu em soluços, completamente desfigurada: " Olha, liga-lhe, não lhe digas que estás aqui comigo, e deixa-me ouvir o que te diz e como te fala!"

Meu Deus, fiquei sem fala!

Já sabia, que quando lhe ligasse me ia chamar amor, que me ia dizer que não podia viver sem mim...Desculpei-me e recusei. Disse-lhe que não era capaz. Para não me pedir isso. Implorou, chorou, que se eu não o queria fazer era porque estávamos mais próximos do que o que lhe tinha contado.

Depois de lhe ter contado mais algumas coisas do que queria ouvir, disse-lhe que precisava de ir à casa de banho. Levei o telemóvel disfarçadamente e enviei sms ao Luís. Que lhe ia ligar, mas para ele saber que ela estava a ouvir. Que não podia evitar.

Deixei que me pedisse mais vezes e lá liguei. No telefonema disse-lhe onde ela estava, que precisava dele e que ele devia ir ter com ela. Assim foi.

Despedi-me dela. Eram 8 da manhã, estava atrasada para o trabalho e para levar os meus filhos à escola. Desejei-lhe a ela ( e a mim) que se entendessem.

Afinal , eu também tinha que resolver a minha vida. E era para isso que eu precisava de arranjar forças.

Pelo caminho, liguei ao Luís e disse-lhe "Vais ter uma surpresa, ela está muito bonita!  E adora-te! Vê lá o que fazes!".

 


publicado por darkbook às 12:22
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Quarta-feira, 20 de Agosto de 2008

Flashback (3 semanas)

Não posso deixar de contar alguns pormenores das 3 semanas antes dos primeiros dias de Janeiro. Eu e o Luís vivemos realmente momentos únicos e muito intensos. Ficam as "memories".

A Sílvia andava muito entusiasmada, porque o Luís não saía da empresa. Trabalhava a 20 Kms, mas arranjava sempre serviço para a zona e todos os dias lá estava. Já acontecia isto antes de estarmos pela primeira vez, eu é que não me apercebi. Ele nunca tinha gostado da família dela. Ela comentava isso comigo. Que ele já aceitava muito bem a família dela.

Depois de termos estado foi muito pior. O meu coração batia de cada vez que o via entrar. Fazíamos tudo para estarmos sós, para nos agarrarmos. Foi mesmo um escape , pelo menos para mim, de tantos anos de falta de paixão.

Fomos maus, muito maus.

Combinamos um fim de semana á Serra da Estrela, mas fizemos com que fosse a minha cunhada a organizar tudo. Ela tratou de tudo. Com o meu marido e com a minha sogra. 

Foi um fim de semana que nunca vou esquecer. Alugamos 2 casinhas de madeira, mas de manhã, como tanto o meu marido como a minha cunhada eram mesmo daquelas pessoas que se levantam à noite, saíamos de manhãzinha e tomávamos o pequeno almoço juntos. Não, lá nunca estivemos juntos. Só mesmo a paixão dos pequenos toques. Houve um dia, quando nos vínhamos embora que chorámos como duas crianças atrás de uma das casas, que não aguentávamos ficar longe um do outro. Que tínhamos ciúmes das noites passadas com outras pessoas.

Num dos fins de semana de Natal, saímos com os meus filhos. Fomos à discoteca. Nem o meu marido nem a minha cunhada quiseram ir. A minha menina ( a Rita com 10 anos foi dormir com a avó). Quando saímos da discoteca fomos tomar o pequeno almoço a uma estação de serviço de auto estrada. Eram estas coisas de criança que alimentavam a paixão que sentíamos.

Na passagem de ano, como é óbvio eu andava completamente fora de mim. Trabalho, a minha cabeça era um rodopio a pensar o que ia acontecer, porque ìa, tinha que acontecer. Aquele stress andava-me  a matar.

Combinámos todos com um casal amigo e toda a família irmos jantar à praia.

Eram 6 horas da tarde e sem que algo o fizesse prever, quando estava às compras num hiper, senti que ia rebentar, perdi a visão. Estava com a minha filha. Chamaram a ambulância. Levaram-me para o centro de saúde. Tinha a tensão arterial altíssima. Quando me levaram de ambulância para outro hospital que ficava a 30 Kms, pedi para deixarem a minha filha com a minha sogra. Já ninguém queria ir jantar fora. Exigi, com muito esforço que fossem. O meu marido, que nisso era impecável (e ainda hoje é) foi ter comigo ao hospital. Nunca me abandonou quando (só) por motivos de saúde achava que era preciso.

E foram. Quando ia na ambulância, a soro e com um médico comigo recebi um telefonema do Luís : "Amor, o que tens?". Chorava muito. Tranquilizei-o. Que estava melhor.

Fiz tudo o que pude para ficar boa rápido em poucas horas. Pedi por tudo quando a tensão desceu um pouco para que me deixassem ir. Que me ia portar bem. Deixaram. A minha doença foi diagnosticada: Crises de pânico. Fazia todo o sentido.

Eram 23 horas. Se me despachasse ainda íamos a tempo de pelo menos lhes fazer companhia. A praia ficava a 100 Kms.

Passei por casa. Tomei um banho. Maquilhei-me ( coisa que não é hábito fazer), estava muito pálida. Olhei-me ao espelho e achei-me linda. Vesti um vestido preto, lindo, estilo Audrey Hepburn, que tinha guardado e que nunca tinha usado. Uma pequena écharpe verde seco, sapato alto preto e um casaco preto.

Ninguém já me esperava. Quando entrámos, todos se levantaram e me vieram dar muitos beijos. Todos me adoravam e eu com aquele peso na consciência. Só notei depois que o Luís não estava. Vi-o segundos depois sair da casa de banho, com os olhos vermelhos. Quando me deu 2 beijos de bom-ano, disfarçadamente disse-me ao ouvido. "Estás tão linda!"

música: qualquer cd Silence Force-Within Temptation
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publicado por darkbook às 23:49
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Terça-feira, 19 de Agosto de 2008

Revelação

Pronto.

Não havia mais maneira (não faz parte do meu feitio) esconder das pessoas o que se passava. Questionei o Luís para o caso de alguém saber. Disse-me que também ele precisava de acabar com um casamento que não lhe dizia nada, que me amava, que era comigo que queria ser feliz e blá, blá, blé , essas coisas que se dizem.

A Sílvia, a minha cunhada, trabalhava comigo. Tínhamos um negócio de família (da parte deles, eu era apenas a esposa, cunhada e nora) do qual já tinha deixado bem claro que queria sair após o divórcio que afinal nunca me ajudaram a concretizar. Aliás, tinha sido para isso que ela para lá tinha ido, para se inteirar do negócio, que eu liderava há anos, para que eu pudesse sair.

Passado o Natal e Ano Novo (penso que dia 6 ou 7 de Janeiro de 2006) eram umas 6 da tarde, chamei a Sílvia ao café que havia ao lado da empresa.

Não lhe contei todos os pormenores, óbvio, mais para não a ferir. Disse-lhe que se passava algo entre mim e o marido. Que eu andava muito carente e não sabia o que sentia. Pedi-lhe por tudo, se amava o Luís para o encostar à parede e para o desculpar. Ele na verdade não me deixava em paz. Telefonava milhões de vezes para a empresa e se fosse ela a atender desligava, se fosse eu colocava o telemóvel ao lado do cd com a "nossa" música (que vou postar aqui).

Ela riu-se de mim. Não gostei. Estava -me a ser tão difícil ter aquela conversa com ela e ela riu-se de mim, da minha honestidade. Porque eu na altura adorava aquele homem. Estava apaixonada. Sim, apaixonada, não era amor. Mas queria que ela lutasse e o roubasse. Era dela, não era meu.

Usou a expressão, no gozo :" Não me digas que achas que ele está apaixonado por ti?"

Eu só disse: " Ok, faz como entenderes, pelo menos tirei um peso de cima"

Telefonei ao Luís e disse-lhe que lhe tinha contado tudo mais ou menos. Pareceu-me meio chateado. Como já tínhamos falado disso, achei-o com medo, e disse-lhe isso. Disse-me que era só porque devíamos ter falado mais a sério como havíamos de fazer. Não lhe liguei mais. Preferi. Ia esperar para ver.

No dia seguinte, ela não foi trabalhar. Ligou para os irmãos, que ia estar fora 4 ou 5 dias.

Até aí não sabia o que se tinha passado. Estava à espera que o Luís me dissesse algo. E disse, passadas umas horas. Que na noite antes, quando chegou a casa, ela lhe perguntou o que se passava entre nós e ele respondeu simplesmente que "Sim, eu gosto muito dela". Não dormiram e na manhã seguinte discutiram o que iam fazer. Ela tinha entendido o que lhe havia pedido no dia antes.

Pediu-lhe que ficasse com a filha e que ela ia de férias para um local que ninguém haveria de saber. Que levava apenas o telemóvel para não ficar incontactável. Contou-me ele.

Só nós três sabíamos o que se passava.

O meu ainda marido, a minha sogra, o meu cunhado interrogavam-se sobre o que se passava.

Desde o dia que fiz amor com o Luís nunca mais estive com o Alexandre (o meu marido).

Aguardava que a Sílvia regressasse para me ajudar ou me dar alguma luz. Mas isso aconteceu mais rápido que o que alguém possa imaginar.

Foi a mim que ligou, em perfeito pânico, às 4 da manhã da primeira noite de "férias"... E eu fui prontamente ter com ela e ajudá-la. Estava a 70 Kms da minha casa. Só me pediu:

"Por favor, não te demores, preciso de ti, rápido!"

Dei uma desculpa qualquer ao Alexandre, que por acaso nessa noite estava em casa (andávamos mal e dessa vez nunca quis fazer as pazes, não podia fazer amor com 2 homens), disse-lhe que a irmã estava mal com o marido e que ia ter com ela. Só me perguntou "mas porquê tu?". Não lhe dei resposta e fui ter com ela.

A música que vou postar aqui era "a nossa música". Hoje deprime-me e entendo que realmente a música mexe muito com as pessoas quando se sentem infelizes.

 

 

 

música: qualquer cd Within Temptation

publicado por darkbook às 16:37
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Domingo, 17 de Agosto de 2008

Traição

Sim. Traí o meu marido. Apesar de não considerar que o traí. A ele e à minha cunhada. A culpa não foi toda minha. Andava desesperada. Precisava de ajuda para me conseguir divorciar. Pedi-a à minha sogra e à minha cunhada 1 ano e tal antes de tudo acontecer. Que sim senhor, que me iam ajudar. Tudo mentira. Não aguentava mais as noites em branco à espera que ele chegasse. Um fedor a álcool e tabaco. Sempre 5, 6 , 7 da manhã. Não pregava olho toda a noite. Às vezes era ele a deitar-se e eu a  acordar os meus filhos para os levar para a escola e para ir trabalhar. Ele ficava a dormir. Chegava para lhe fazer o almoço e acordá-lo e claro, as discussões de sempre. Estavamos sem nos falar 2, 3 dias. Depois ele pedia-me desculpa. Quase sempre pedia para os filhos assistirem. "Eu gosto tanto da vossa mãe, não sei porque faço estes disparates...desculpas-me? Prometo que nunca mais saio à noite e deixo de beber". Sim, 2 dias ( no máximo) não saía. Mas depois, continuava tudo igual. Aguentei 3 anos esta vida, sempre do mesmo jeito, sempre igual. Os meus filhos davam dó. A mim diziam " vai correr tudo bem", à irmã ( com 7 anos na altura) diziam "Sabes Rita, fica no teu quarto, faz como nós há anos. Os adultos têm destas coisas, não chores..." Coisas do género.

Tinha vergonha da minha vida e como milhares de mulheres ( com famílias bem vistas na sociedade) escondia de todos o que se passava. Pedi-lhe o divórcio milhões de vezes, mas perante o choro de criança dele cedia sempre.Só desabafava com a minha sogra e com a minha cunhada. Eram a minha esperança. Iam tentar ensiná-lo a viver sem mim.

Atento a estes desabafos e tendo conhecimento deles em casa, talvez à noite na cama, estava o marido da minha cunhada. Eu bem reparava que ele me olhava de uma maneira estranha.

Foi quem despoletou tudo. Ainda hoje lhe agradeço.

Antes do Natal, fizemos uma reunião de família numa casinha de campo que tínhamos (hoje habitação do meu ex).

Fomos levar umas coisas para lá e não sei como, ficamos sozinhos. Eu e o Luís (o meu cunhado). Só sei que me sentei à lareira (na noite antes tinha havido cenas em casa durante  a noite). Ele sabia, de certeza, pela minha cunhada, porque eu tinha-me queixado a ela que já nem queria fazer aquela reunião.

Disse-me que sentia que eu estava muito infeliz e que não sabia explicar mas que só pensava em estar comigo. Fizemos amor ali à lareira. Meu Deus, era tudo tão errado, mas sabia tão bem.

Sentia-me feliz, amada, não era amor o que sentia (hoje sei perfeitamente), mas ao mesmo tempo sentia-me a pior pessoa do mundo. E culpava o meu marido. Porque me tinha abandonado há anos? Sentia-me mais puta com ele que com o meu cunhado.

Assim 1 vez por semana, quando chegava às 4 ou 5 da manhã e eu fingia que dormia, acordava-me porque lhe apetecia fazer amor. Se eu dissesse que não ( ele metia-me nojo, tenho tanta pena de o dizer, não tomava banho, não lavava os dentes, fumava 3 ou 4  maços por dia) partia portas (não era bater portas, era partir portas), partia tudo o que lhe aparecesse à frente. Eu acabava porque cedia. Fingia. Pelos meus filhos. Sentia-me uma puta. Aí sim, sentia!

Acho que nos últimos 5 anos de casada nunca o beijei( tenho a certeza que as putas não beijam os clientes). Era assim com o meu marido.

Com o Luís era bom demais. Sentia-me uma adolescente apaixonada. Os toques, os olhares.

A culpa era muita, mesmo assim. Passados 2 ou 3 dias, falei com os meus flhos (deixei  a Rita que tinha apenas 10 anos de fora, claro). O Miguel tinha 17 anos e o Francisco 15 ou 16. Eram (e ainda são agora) os meus melhores amigos. Chorei tudo com eles e contei-lhes como me sentia feliz e ao mesmo tempo tão mal. Apoiaram-me e só me pediram para ser honesta com todos, que haveria de haver uma solução com o tempo. Combinámos deixar passar o Natal e o Ano Novo para me ajudarem a pedir definitivamente o divórcio. Agora é que era incapaz de viver mais com o que foi meu marido durante 18 anos.

 

 


publicado por darkbook às 22:59
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