Só pensava em morrer. Silenciosamente planeava uma morte. Deixaria os meus filhos bem materialmente. Tinha seguros que cobriam todos os empréstimos no banco. Mas observava-os e confrontava-os, disfarçadamente com várias situações. Tinha sido convidada para ir para Angola e para S. Tomé e Príncipe. Era uma boa opção, mas não apagava a tristeza que sentia. Pediram-me para não ir. Eles apesar de "grandes" precisavam tanto de mim. Quando pensava no alívio que seria morrer, chorava ao imaginá-los perdidos sem mim. Eu era o seu porto seguro e não se cansavam de me dizer.
O Guilherme não me saía da cabeça. Entendia tudo o que fui para ele. E fui parva ao não o deixar simplesmente ir à vida dele. No fundo agora vivia experiências como a que ele viveu comigo. O facto de ter buscado no sexo o refúgio para a minha solidão, não queria dizer que não respeitasse quem estava comigo. Mas isso só me deixava mais angustiada. Imaginava-o pior a cada conquista mal sucedida, que era o que eu tinha sido para ele, por mais que me custasse a admitir. Ele não tinha culpa que o adorasse, e que simbolizasse o que procurava num homem . Como me disse um dia :" Lá porque não resultou contigo não quer dizer que não me entenda com mais nenhuma mulher".Desculpa Guilherme, desculpa! Eu, Ana, com 37 anos, sabia perfeitamente o que querias dizer.
Desligava o telemóvel. Não queria mais homens, mais amantes...
Eu à noite falava no msn com amigos. Amigos que tinha feito na net, mas que nunca tinham passado de amigos. Tinha conhecido 2 pessoalmente numa das minhas idas a Lisboa. E depois encontrámo-nos mais vezes. Um deles aparecia em minha casa ás vezes ao fim de semana. O outro também veio cá petiscar uns dias. Saía do trabalho lá em Lisboa e dava-lhe na maluqueira e aparecia cá. Demorava 1 hora e tal, mas fez isso umas 3 vezes.
Um dia apareceu-me alguém que me adicionou no msn. Era um joaocosta32@hot.... Pensei logo que seria o Guilherme. Ele tinha na altura 32 anos. Fazia sentido. Adicionei-o mas sem lhe perguntar se era ele. Que brincadeira era aquela, se não era ele, quem seria para despertar em mim esperança ?
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"Eu sei que não és minha mulher, mas como o gajo está susceptível, é só para lançar a DÚVIDA, a maldita da dúvida!" .
Bem, ainda me disse que era bom que nos reuníssemos (os três) para falar sobre aquilo!
Era o que faltava! Mas que tinha ele a ver com o facto de termos estado? O Hugo era amigo dele, e eu era uma mulher disponível para dormir com quem quisesse!
Cheguei à conclusão, que o que o estava a "moer" era o facto de o amigo não lhe ter contado, e ter sido eu a fazê-lo. Ele era mesmo "queer"!
Falei depois com o Hugo. Estava chateado comigo, porque não queria mesmo que ele soubesse. "Amigos, amigos, negócios à parte :) ! "
Fiquei aliviada e eles lá se entenderam. Que fossem felizes para sempre !
Ainda brinquei com ele com mais uma suposta conquista.
Bem, essa foi demais.
Mas o que me intrigava é que ele, tão inteligente, caía sempre !
Chegou ao cúmulo de pedir a um ou dois homens de se meterem com "ela", para ter a certeza se era eu ou não ! Lembro-me que uma vez falou de outro msn. Eu que sabia que era ele disse-lhe :" Manda um beijinho ao Guilherme!" E ele, julgando-se muito esperto : "A mim?"
"Isso, a ti !" :)
Disse-me qualquer coisa como :" Temos que combinar outra noite no "nosso quarto!"
Tinha que sair e só quando cheguei vi isso escrito no msn. Respondi e não sei se foi ele que leu ou não. "É melhor no "meu quarto" que a cama é nova e maior e não faz barulho como a tua!"
Coisas de crianças!
Não sei se o odiava se gostava mesmo dele. Ainda hoje não sei. Só sei que penso nele. Muitas vezes.
Ele pelo menos aprendeu uma lição. Isto da net é muito perigoso. Pode-nos sair na rifa qualquer coisa. Penso que se deixou disso. Com aquele arzinho arrogante e com a mania que sabe tudo e é o maior, pelo menos tenho a certeza que de mim e para o mal não se vai esquecer tão cedo.
Mas tenho saudades dele. Eu gosto de pessoas complicadas, que hei-de fazer?
Não consigo passar para aqui "o antes" e "o depois" do Guilherme. É muito profundo. Uma mulher sabe e sente quando um homem pensa nela. Eu absorvia os pensamentos dele, isso ele nunca vai poder negar. Achava algumas vezes, que o problema era dele e que no fundo, sem ele se aperceber, sem querer, gostava de mim.
A minha vida tinha mudado de 8 para 80 em tão poucos meses e tinha sido muito desgastante ter gerido essa mudança. Ele não sabia disso.
Eu sentia que podia tudo, que todos os homens me queriam, tal era o assédio que tinha na altura. Não lidei bem com o facto de querer um e esse me rejeitar, com a agravante que sentia que me tinha usado.
Aprendi a conhecê-lo nos 2 ou 3 meses que durou o nosso encantamento. Era muito inseguro, apesar da "arrogância" provocada pela grande bagagem cultural que tinha. Tinha 31 anos, que tenho a certeza passou a "cultivar-se". Queria agora gozar a vida. Tinha a sua lógica. Não era feliz antes de me conhecer e agora nem sei. Se soubesse que estava feliz, acho que me fazia bem.
"Idolatrava" um amigo, o Hugo. Falou-me vezes sem conta dele. Um entusiasmo e os olhos brilhavam. Dizia que era o melhor amigo dele. Parece que tinha estado para casar com uma mulher que o trocou por outro. Eram da mesma "Terrinha". O Guilherme aproximou-se dele nessa altura, e a partir daí, pelas palavras do Guilherme, eram confidentes e conheciam-se "como a palma da mão". Bem, fiquei curiosa! Estava noivo de novo, mas agora parece que era ele que estava sempre " a enfeitar" a nova noiva e que não havia mulher que lhe escapasse. O Guilherme "delirava" cada vez que falava nele. Achei depois que talvez o tentasse "igualar" nos feitos com as mulheres, para ter assunto.
O Hugo também trabalhava em Lisboa, vá arredores, e ao fim de semana ía à terrinha deles.
Nessa altura eu ía todos os dias para Lisboa.
O Guilherme tinha-me magoado muito e se não me tivesse depois ofendido com expressões como "desampara-me a loja", "deslarga-me a braguilha", "variada dos cornos". Sim, isso.
Eu queria ver o que tinha acontecido e o que eu tinha significado para ele.
Criei uma página no Hi5, com a foto de uma amiga e com outro nome.
Fui visitá-lo e deixei uma mensagem.
Tótó, caiu logo. Ficou com aquela euforia de novo. Tinha sido tão parva e tão ingénua.
Criei um novo email e adicionou-me . Podia ter feito aquilo durar, mas não, não me contive quando "me falou de mim"...
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
. Desculpa
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