Não sei como aguentava.
Ainda hoje sinto "arrepios" quando me lembro.
O Alexandre, julgando que a minha vida corria ás mil maravilhas, sentia "prazer" em me fazer pagar por todos os males que lhe causei. Revi toda a minha vida anterior quando era casada com ele e senti de novo o " terror" das noites que passava nessa altura. Ele sabia o que me afectava, apesar de eu demonstrar durante o dia que tudo corria bem.
Eu de manhã fazia-o entender, por vezes até à rouquidão, que se queria ajuda minha e se queria o amor e o respeito dos filhos, tinha que nos deixar em paz. Talvez não fosse fácil para ele viver longe dos filhos. Eu, enquanto casados, tinha-lhe oferecido uma vida de servidão. Nunca soube o que era ter um marido presente, que fizesse compras comigo, que levasse os filhos à escola, que me acarinhasse e principalmente nos últimos anos de casados que me respeitasse. Eu tinha sido um "bibelôt" e um "troféu" que ostentava em casa. Nunca soube o que era pagar uma conta da água, da electricidade, um prestação do crédito á habitação, o preço da carne, do leite...Nada. Também tinha sido um pai ausente, apesar de gostar e ter muito orgulho nos filhos. Mas era a "Ana" que estava com eles sempre nos bons e principalmente nos maus momentos.
Gritava com ele : "Tu deixaste que te traísse, foste um mau marido. Assumi a minha culpa e estou a pagar pelo erro que fiz, mas não posso apagar o que aconteceu.Por favor deixa-me em paz !" .
Ele estava com outra pessoa. Agora tentava fazer com ela tudo o que nunca fez comigo. Ela tem um filho de 5 anos, que é ele que leva à escola. Os meus filhos podiam agora ficar magoados, porque a eles nunca o fez. Mas não, todos queríamos que fosse feliz! Ainda hoje!
Tão maquiavélico, até a pensão de alimentos que o juiz queria que fosse feita por transferência bancária, pediu para ficar escrito que podia ser em dinheiro, para eu não ter provas, já que passados 3 anos nem 1 cêntimo eu vi. Não me importo. Sei que fui eu que pedi o divórcio. Assumi que o tinha traído. Mas os nossos filhos não têm culpa. Ele também me traiu, de várias formas.
Uma noite, passou dos limites.
Eu tinha medo dele e nunca desligava o telemóvel . Preferia ouvir noites e noites os seus desabafos e ofensas, apesar dos meus filhos "ralharem" comigo:"Mãe, tu és a culpada de ele ser assim! Desliga os telefones todos e não lhe ligues que ele cala-se!" O meu filho mais velho já estava na Universidade e tinha medo, porque era o único que o Alexandre temia. O outro, coração mole, tinha pena dele. A minha filha igual. Só lhe ralhavam, que estavam fartos.
Uma noite em que o telemóvel não parava, avisei-o que o ia desligar. Ainda o ouvi gritar : "Se o desligares, vou aí a casa!"
Sabia que vinha, já não era a primeira vez, mas agora os meus filhos tinham-lhe tirado as chaves todas e para meu alívio o meu filho mais velho estava em casa.
Tentei dormir. Passaram umas 2 horas e ele não veio. Talvez se tivesse deixado disso...Peguei no sono.
Eram umas 5 da manhã, senti uma respiração leve. Sobressaltada, de um salto, acendi a luz e levantei-me.
Estava sentado ao meu lado com os olhos "esbugalhados" de ódio e com uma toalha na mão.
Gritei pelo meu filho.
Ele desceu imediatamente do 1º andar. Senti um medo terrível e ao mesmo tempo uma pena enorme do Alexandre (que não demonstrei). Os meus outros filhos acordaram logo.
"Pai? O que querias fazer à mãe?"
"Nada, acham que lhe ìa fazer alguma coisa? Era só para falar com ela."
"Onde foste buscar a chave? Tens mais alguma?"
Depois confrontamo-lo com os factos.
O cão não ladrou. Ele deixou o carro a 500 metros de casa e foi a pé. Não acendeu luz nenhuma. O meu filho ainda estava acordado e não sentiu absolutamente barulho nenhum. A toalha não era minha. Tinha-a trazido de casa.
"Pai, é muito estranho". " Que querias fazer à mãe?"
"Juro, filhos, juro que não queria fazer nada à mãe!"
No meio do medo que senti fiquei com pena dele. Porque sou assim ? Só causo infelicidade a toda a gente ...
Confesso, estava a ficar cansada.
O Alexandre não me largava, todos os dias com novas sms, uns dias que me desejava as maiores felicidades, outros dias (neste caso eram mais noites) que me odiava, que eu haveria de pagar por tudo o que lhe tinha feito, que era uma mentirosa, uma vaca, uma puta, que a irmã e a mãe estavam muito mal e que eu era a culpada de tudo. No fundo, eram verdades. Eu estava arrependida. O que sentia pelo Luís não valia aguentar aquilo tudo.
As minhas amigas invejavam-me. Como era possível um homem amar-me tanto como o Luís me amava? Uma mulher que ainda nem estava divorciada e que tinha 3 filhos?
Quis provar a mim própria que tudo não tinha sido um enorme erro e que ele era homem para me fazer feliz. Insisti em nós.
No início de Março a advogada tinha a audiência marcada com o conservador.
Há hora marcada lá estávamos os dois. O conservador ainda tentou aquela treta de reconciliação. Foi rápido. Assim que saí, pedi se já podia tratar do BI com o novo Estado Civil : "DIV". Só daí a 15 dias. Ok, no problem!
Liguei ao Luís. Falamos logo que íamos fazer uma viagem. Eu fazia anos nesse mês.
Ele tratou de tudo. Foi uma semana, não diria fantástica e fabulosa, mas foi boa. Fomos a Roma (3 dias) e Veneza (4 dias). Porque não tenho saudades dessa semana? Vejo-me lá, mas sozinha.
O hotel era fabuloso, como tudo em Veneza é. Sei que vou voltar um dia. Quero experimentar a magia que tem Veneza.
No dia que regressámos a Portugal, fomos ao mercado. Comprámos massas coloridas e umas ervas aromáticas. Convidámos amigos comuns e fizemos o jantar em minha casa.
No fim do jantar tivemos a primeira e última discussão como namorados.
Veneza será assim tão mágica ao ponto de fazer terminar uma relação onde não existia amor?
Hotel Monaco & Grand Canal
No meio de tudo o que fiz mal e que era irreversível (ter-me envolvido logo com o meu cunhado), tentei que não passasse daquilo. Mas os telemóveis de toda a família dele não paravam de passar verdades e mentiras durante dias e noites. Tentavam descortinar uma história que tinha sido como lhes tinha sido contada, mas que insistiam em fazer muito maior e mais escandalosa.
Como se gere uma empresa após um escândalo destes?
Alertei o Alexandre, que me ia embora. Foi ele que aceitou lá a irmã, que era formada em gestão de empresas e tudo. Tentei fazê-los ver que seria pior se não fossem discretos e que pela minha parte, podiam ter a certeza que nunca me envolveria com o Luís aos olhos das pessoas com quem se relacionavam.
Modéstia à parte, sei que sempre fui o alicerce daquela empresa. Eles achavam que não. Tinham muito a perder se saísse, mas para mim era um alívio ver-me livre deles.
Não, não ligo a bens materiais, mas deixei que me envolvessem num "balão" de dívidas, avales, quando já sabia que queria fugir daquela vida de "faz de conta" que somos ricos.
E foi o descalabro completo.
Espalhou-se como uma bomba.
Estavam "feridos" no orgulho. Tanto a Sílvia como o Alexandre. Depois a minha sogra, o meu cunhado ( o irmão da Sílvia e do meu marido). Quiseram ver-me a rastejar.
O Luís, diga-se a verdade, além de nada poder fazer, porque era eu que estava envolvida "até aos cabelos " com eles, continuou na vida dele. Tinha o seu emprego, ganhava razoavelmente bem. Saiu de casa e arranjou um pequeno apartamento para viver. Apoiava-me e estava sempre a ligar-me. Encontrávamo-nos várias vezes, longe dali e dava-me força.
Tentei não entrar nos jogos sujos que me "propunham".
Começaram as ameaças do Alexandre.
Nas noites que se seguiram, ligava-me vezes sem conta. Eu pedia aos meus filhos que fossem dormir com ele, para que pudesse dormir uma noite por semana. Foram algumas vezes. E ele parecia entender que não havia nada a fazer.
Eu ainda não tinha dito nada à minha família. Iam sofrer um choque. Afinal a filha que julgavam ter uma vida muito feliz, estava a "desgraça-la". Eu andava a ganhar coragem e acho que era uma decisão que me competia a mim. Afinal era eu que vivia uma vida "de faz de conta" há anos.
Foi ele, que num café da aldeia onde morávamos, tratou disso. A minha mãe, pessoa humilde, estava a tomar café com amigas. Ele, em pleno balcão, só lhe disse: "Sabe que eu e a Ana estamos a tratar do divórcio?".
A minha mãe não acreditou e ligou-me de seguida. Eu estava a trabalhar e disse-lhe que ia à noite falar com eles.
Expliquei-lhes que não tinha nada a ver com o que eles iam ouvir dizer. Que sim, que era verdade, que a minha cunhada e o marido também estavam a separar-se, mas que a minha decisão não tinha nada a ver com isso. Ficaram chocados, mas não sabiam o que dizer.
Começamos a tratar do divórcio passados poucos dias. Seria amigável, porque os meus filhos o pressionaram. Sem eles nunca teria conseguido. A advogada foi escolhida pelos dois. Hoje ela entende um pouco como era a personalidade dele. Alterou o acordo 3 vezes. À terceira vez pensei que ìa desistir de tratar do meu divórcio. Ele fazia questão de levar as minutas para casa, antes de assinar e ler e reler tudo. Lembro-me uma noite, eram 3 ou 4 da manhã, bateu-me à porta. Queria que eu lesse o acordo. Nem me lembro bem, mas penso que tinha a ver com as visitas a casa aos filhos. Que não podia ir lá a partir das 23 horas. Aceitei tudo o que ele pediu. Inclusivé que podia ir a casa sempre que entendesse.
A advogada ligou-me à noite a perguntar-me se eu tinha noção do que ìa fazer. Eu só queria ver-me livre daquilo o mais rápido possível. Mas ele sabia bem o que estava a fazer...
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. Finalmente livre...ou não...