Sim. Traí o meu marido. Apesar de não considerar que o traí. A ele e à minha cunhada. A culpa não foi toda minha. Andava desesperada. Precisava de ajuda para me conseguir divorciar. Pedi-a à minha sogra e à minha cunhada 1 ano e tal antes de tudo acontecer. Que sim senhor, que me iam ajudar. Tudo mentira. Não aguentava mais as noites em branco à espera que ele chegasse. Um fedor a álcool e tabaco. Sempre 5, 6 , 7 da manhã. Não pregava olho toda a noite. Às vezes era ele a deitar-se e eu a acordar os meus filhos para os levar para a escola e para ir trabalhar. Ele ficava a dormir. Chegava para lhe fazer o almoço e acordá-lo e claro, as discussões de sempre. Estavamos sem nos falar 2, 3 dias. Depois ele pedia-me desculpa. Quase sempre pedia para os filhos assistirem. "Eu gosto tanto da vossa mãe, não sei porque faço estes disparates...desculpas-me? Prometo que nunca mais saio à noite e deixo de beber". Sim, 2 dias ( no máximo) não saía. Mas depois, continuava tudo igual. Aguentei 3 anos esta vida, sempre do mesmo jeito, sempre igual. Os meus filhos davam dó. A mim diziam " vai correr tudo bem", à irmã ( com 7 anos na altura) diziam "Sabes Rita, fica no teu quarto, faz como nós há anos. Os adultos têm destas coisas, não chores..." Coisas do género.
Tinha vergonha da minha vida e como milhares de mulheres ( com famílias bem vistas na sociedade) escondia de todos o que se passava. Pedi-lhe o divórcio milhões de vezes, mas perante o choro de criança dele cedia sempre.Só desabafava com a minha sogra e com a minha cunhada. Eram a minha esperança. Iam tentar ensiná-lo a viver sem mim.
Atento a estes desabafos e tendo conhecimento deles em casa, talvez à noite na cama, estava o marido da minha cunhada. Eu bem reparava que ele me olhava de uma maneira estranha.
Foi quem despoletou tudo. Ainda hoje lhe agradeço.
Antes do Natal, fizemos uma reunião de família numa casinha de campo que tínhamos (hoje habitação do meu ex).
Fomos levar umas coisas para lá e não sei como, ficamos sozinhos. Eu e o Luís (o meu cunhado). Só sei que me sentei à lareira (na noite antes tinha havido cenas em casa durante a noite). Ele sabia, de certeza, pela minha cunhada, porque eu tinha-me queixado a ela que já nem queria fazer aquela reunião.
Disse-me que sentia que eu estava muito infeliz e que não sabia explicar mas que só pensava em estar comigo. Fizemos amor ali à lareira. Meu Deus, era tudo tão errado, mas sabia tão bem.
Sentia-me feliz, amada, não era amor o que sentia (hoje sei perfeitamente), mas ao mesmo tempo sentia-me a pior pessoa do mundo. E culpava o meu marido. Porque me tinha abandonado há anos? Sentia-me mais puta com ele que com o meu cunhado.
Assim 1 vez por semana, quando chegava às 4 ou 5 da manhã e eu fingia que dormia, acordava-me porque lhe apetecia fazer amor. Se eu dissesse que não ( ele metia-me nojo, tenho tanta pena de o dizer, não tomava banho, não lavava os dentes, fumava 3 ou 4 maços por dia) partia portas (não era bater portas, era partir portas), partia tudo o que lhe aparecesse à frente. Eu acabava porque cedia. Fingia. Pelos meus filhos. Sentia-me uma puta. Aí sim, sentia!
Acho que nos últimos 5 anos de casada nunca o beijei( tenho a certeza que as putas não beijam os clientes). Era assim com o meu marido.
Com o Luís era bom demais. Sentia-me uma adolescente apaixonada. Os toques, os olhares.
A culpa era muita, mesmo assim. Passados 2 ou 3 dias, falei com os meus flhos (deixei a Rita que tinha apenas 10 anos de fora, claro). O Miguel tinha 17 anos e o Francisco 15 ou 16. Eram (e ainda são agora) os meus melhores amigos. Chorei tudo com eles e contei-lhes como me sentia feliz e ao mesmo tempo tão mal. Apoiaram-me e só me pediram para ser honesta com todos, que haveria de haver uma solução com o tempo. Combinámos deixar passar o Natal e o Ano Novo para me ajudarem a pedir definitivamente o divórcio. Agora é que era incapaz de viver mais com o que foi meu marido durante 18 anos.
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