Pois é! A amizade!
Esta "coisa", que vamos ganhando e perdendo ao longo da vida. Os amigos.
Sempre tive muitos, não me posso queixar. Que me ajudaram a ultrapassar a minha timidez, a elevar a minha auto-estima e a fazer-me sentir a maioria das vezes dotada da capacidade que é ser "líder".
De família muito humilde, sempre vivi fechada num "casulo". Sabia as capacidades que tinha. Lembro-me que na aldeia e na escola primária que frequentei era usual as mães das meninas de bem levarem "prendas" às professoras. E algumas até naquela altura "saltavam" 2 anos num só... Era assim que funcionavam as coisas. A minha mãe acho que nunca ìa à escola, só quando encontrava as professoras pela rua. Mas eu só fazia um ano de cada vez :) . Era pobre!
As minhas amigas de infância não eram apenas essas , mas todas. Estas coisas marcam uma criança. Porque é que eu é que fazia os testes de muitas e elas é que passavam 2 anos num só?
Quando acabámos a 4ª classe (hoje 4º ano), separei-me do meu grupo de 4 ou 5 boas amigas (todas mais novas que eu 1 ano). Elas iriam todas para colégios internos e Escolas Secundárias que ficavam a Kms da aldeia. Eu tinha que ficar na Escola primária a fazer o que na altura era a "Telescola". Foi giro, apesar de tudo (aquilo depois acabou 1 ou 2 anos depois). Mas perdi de certo modo o contacto com as minhas amigas de infância. Arranjei outras e outros amigos, obviamente. Era tarefa fácil para mim.
Tive que implorar ao meu pai quando terminou o 2º ano de Telescola, para continuar a estudar na Vila (hoje Cidade) mais próxima. O dinheiro era muito pouco numa família com 6 filhos. E não era obrigatório estudar, como hoje. Iria, mas se "chumbasse" algum ano: "Rua"!
Quando cheguei à Secundária ao 7º ano era uma menina do mais tímido que havia. Acho que na minha vida até aí, o mais longe de casa que fiquei foi as poucas vezes que de autocarro ìa com a minha mãe ao mercado dessa Vila.
Voltei a encontrar as minhas amigas e a fazer novas amizades. A partir daí fui muito feliz. Corava por tudo e por nada. Lembro-me que na primeira eleição de delegado de turma, eu fui a escolhida! Meu Deus!
Muito haveria por escrever, mas a minha vida foi "construída" por mim. Opções e lutas boas ou más, a mim o devo.
Das grandes amizades que tive na adolescência, perdi-as por opção minha. Um casamento à pressa, por uma gravidez inesperada, com 17 anos mudaram radicalmente a minha vida ( não me arrependo, atenção). Abandonei os estudos no 12º ano e dediquei-me à minha nova família.
Os amigos depois do casamento, e após o meu divórcio, "fugiram". Não eram amigos. Eram casais com filhos como eu que se juntavam para jantaradas e noites passadas em casa de uns e outros. Eu agora já não era casada. Já não fazia parte do grupo!
Mas agora tinha os meus filhos! Os melhores amigos que se podem ter e que me adoram!
Mas tive uma agradável surpresa! As amigas da adolescência voltaram para me apoiar!
Lembro-me de uma noite que tocaram a campainha da minha casa. Era a Maria! Hoje posso dizer, é e sempre foi a minha melhor amiga (apesar da ausência entre nós de 20 anos).
Quando entrou, sentámo-nos à lareira e abraçou-me, que podia contar com ela para o que precisasse.
Eu disse-lhe: " Maria, mas eu não estou só. Não fui abandonada pelo Alexandre. Envolvi-me com o meu cunhado!"
E ela, incrédula :" Mas Ana, o teu cunhado é gay!"
Expliquei-lhe que não tinha sido com o irmão do Alexandre ( que era e é gay), mas com o marido da irmã do Alexandre.
Foi giro :D . Ainda hoje nos rimos dessa primeira troca de palavras.
Acompanha-me desde sempre e hoje é a minha "Best friend"...
Adoro-te Maria! ( Sei que não me lês, porque este é o meu "Dark book" )
Obrigado por estares comigo nos bons e maus momentos...
No meio da imensa intriga que existia, eu e o Luís tentávamos viver uma vida paralela, cheia de momentos que apesar de inesquecíveis, hoje só me deixam saudades porque sei que foram vividos com imensa paixão e loucura pelos dois.
Sei que ele, mais que eu, hoje tem muitas saudades desses tempos e tenho plena consciência que os queria repetir, mas aprendi que ele não é fiel. Nunca mais, nem que ainda hoje sentisse alguma coisa por ele voltaria a viver esses momentos. Homem que trai 1 vez trai muitas mais (adiante vão saber porque o digo).
Mulher "ferida" e "mal amada" (pelo menos como pretendia) durante 18 anos, deixei-me levar em 4 meses intensos. Mas aprendi que "Só o amor é real". Todo o resto são ilusões, decepções...
Enquanto durante a semana trabalhava, tratava do divórcio, acompanhava os meus filhos (que não queria que saíssem muito "beliscados" com a mudança brusca da minha vida), tinha encontros fortuitos, intensos e "secretos"com o Luís, à noite dormia "amedrontada" com pressões, medos, ameaças.
A Sílvia voltou ao trabalho, cumprimentava-me e disfarçava a insegurança que sentia. O Luís iria abandonar a casa e também já andavam a preparar o divórcio (que nunca se concretizou). Ela jogava todas "as cartadas" para o prender e evitar que a abandonasse. Lembro-me que antes de ele se mudar para o apartamento que alugou, ela o aliciou com um fim de semana no Hotel preferido dele. O Tivoli em Vilamoura. Para ele "arrumar as ideias". Ele claro, aceitou (é muito fútil, com a mania de grandezas que não tem, o que não tem nada a ver comigo). Mas ligou-me, para ir ter com ele. Parecia loucura da minha parte, mas "louca" como andava, fui. Ele iria na Quinta ou Sexta e regressaria no Domingo. Eu só pensava como poderia ir ter com ele, sem ninguém saber. A Sílvia comunicou ao irmão e "como quem não quer a coisa" alertou-o para me vigiar. Afinal ainda não éramos divorciados. No sábado à tarde disse aos meus filhos que ía ter com ele, mas que ninguém podia saber(eram os meus confidentes) . O Alexandre, que controlava os meus passos por terceiros, soube que ìa passar a noite fora. Tenho a certeza que ainda hoje não sabem que à Meia-noite dirigi-me para lá e em 2 horas e picos estava com ele no Hotel. A noite foi espectacular. Quando lhe disse que daí a meia hora estaria lá com ele (eram 3 da manhã), mandou o serviço do Hotel preparar no quarto uma recepção "à filme" de amor. Estava frio ( Janeiro), mas a noite foi verdadeiramente "hot".
No Domingo chegámos, e para ninguém desconfiar, deixei-o numa estação que ficava apenas a 20 Kms de casa. Chegou como tinha ido, de "expresso".
Na segunda, a minha vida continuou como até aí, e ele na semana que se seguiu mudou-se para o novo apartamento que alugou...sozinho. A Sílvia sabia que estava derrotada, e sozinha em casa começou a bombardear-me com sms. Que eu era uma ignorante, que a única pessoa que ele amava era ela. Sms que me faziam sentir "pena" dela, mas que paciente soube esperar por um homem que amava, mas que não a amava a ela. Sei que passou 4 meses " angustiantes e solitários" em detrimento dos meus "loucos e de muita paixão", apenas salteados de pesadelos proporcionados pelo Alexandre, que ia gerindo com muito cansaço. Mas, como tudo na vida, tudo tem um fim...
No meio de tudo o que fiz mal e que era irreversível (ter-me envolvido logo com o meu cunhado), tentei que não passasse daquilo. Mas os telemóveis de toda a família dele não paravam de passar verdades e mentiras durante dias e noites. Tentavam descortinar uma história que tinha sido como lhes tinha sido contada, mas que insistiam em fazer muito maior e mais escandalosa.
Como se gere uma empresa após um escândalo destes?
Alertei o Alexandre, que me ia embora. Foi ele que aceitou lá a irmã, que era formada em gestão de empresas e tudo. Tentei fazê-los ver que seria pior se não fossem discretos e que pela minha parte, podiam ter a certeza que nunca me envolveria com o Luís aos olhos das pessoas com quem se relacionavam.
Modéstia à parte, sei que sempre fui o alicerce daquela empresa. Eles achavam que não. Tinham muito a perder se saísse, mas para mim era um alívio ver-me livre deles.
Não, não ligo a bens materiais, mas deixei que me envolvessem num "balão" de dívidas, avales, quando já sabia que queria fugir daquela vida de "faz de conta" que somos ricos.
E foi o descalabro completo.
Espalhou-se como uma bomba.
Estavam "feridos" no orgulho. Tanto a Sílvia como o Alexandre. Depois a minha sogra, o meu cunhado ( o irmão da Sílvia e do meu marido). Quiseram ver-me a rastejar.
O Luís, diga-se a verdade, além de nada poder fazer, porque era eu que estava envolvida "até aos cabelos " com eles, continuou na vida dele. Tinha o seu emprego, ganhava razoavelmente bem. Saiu de casa e arranjou um pequeno apartamento para viver. Apoiava-me e estava sempre a ligar-me. Encontrávamo-nos várias vezes, longe dali e dava-me força.
Tentei não entrar nos jogos sujos que me "propunham".
Começaram as ameaças do Alexandre.
Nas noites que se seguiram, ligava-me vezes sem conta. Eu pedia aos meus filhos que fossem dormir com ele, para que pudesse dormir uma noite por semana. Foram algumas vezes. E ele parecia entender que não havia nada a fazer.
Eu ainda não tinha dito nada à minha família. Iam sofrer um choque. Afinal a filha que julgavam ter uma vida muito feliz, estava a "desgraça-la". Eu andava a ganhar coragem e acho que era uma decisão que me competia a mim. Afinal era eu que vivia uma vida "de faz de conta" há anos.
Foi ele, que num café da aldeia onde morávamos, tratou disso. A minha mãe, pessoa humilde, estava a tomar café com amigas. Ele, em pleno balcão, só lhe disse: "Sabe que eu e a Ana estamos a tratar do divórcio?".
A minha mãe não acreditou e ligou-me de seguida. Eu estava a trabalhar e disse-lhe que ia à noite falar com eles.
Expliquei-lhes que não tinha nada a ver com o que eles iam ouvir dizer. Que sim, que era verdade, que a minha cunhada e o marido também estavam a separar-se, mas que a minha decisão não tinha nada a ver com isso. Ficaram chocados, mas não sabiam o que dizer.
Começamos a tratar do divórcio passados poucos dias. Seria amigável, porque os meus filhos o pressionaram. Sem eles nunca teria conseguido. A advogada foi escolhida pelos dois. Hoje ela entende um pouco como era a personalidade dele. Alterou o acordo 3 vezes. À terceira vez pensei que ìa desistir de tratar do meu divórcio. Ele fazia questão de levar as minutas para casa, antes de assinar e ler e reler tudo. Lembro-me uma noite, eram 3 ou 4 da manhã, bateu-me à porta. Queria que eu lesse o acordo. Nem me lembro bem, mas penso que tinha a ver com as visitas a casa aos filhos. Que não podia ir lá a partir das 23 horas. Aceitei tudo o que ele pediu. Inclusivé que podia ir a casa sempre que entendesse.
A advogada ligou-me à noite a perguntar-me se eu tinha noção do que ìa fazer. Eu só queria ver-me livre daquilo o mais rápido possível. Mas ele sabia bem o que estava a fazer...
Agora era a vez de resolver o meu problema. Não queria saber como a Sílvia e o Luís iam resolver o problema deles. Tinha deixado claro que o que eu queria mais que tudo era divorciar-me, ficasse ele ou não com a Sílvia.
Cheguei a casa nessa manhã, levei os meus filhos mais velhos à escola ( A Rita ficava essa manhã em casa). O Miguel frequentava o 12º ano e o Francisco o 10º ano. Falei mais ou menos com eles o que se tinha passado, e que precisava deles à noite para falar com o Alexandre.
À noite, no fim do jantar, disse-lhe que precisávamos de falar. Os meus filhos ficaram comigo. Contei-lhe o que se passava com a Sílvia, o que lá tinha ido fazer nessa noite, e que possivelmente estavam a discutir a vida deles.
Que me tinha envolvido com o marido da irmã e que não sabia se gostava ou não dele, mas que como era óbvio não queria mais continuar casada.
Ficou parvo, mas a única coisa que me perguntou foi: "Mas gostas de mim?".
"Não, não gosto".
Os meus filhos confirmaram-lhe que já sabiam que eu queria o divórcio e que era a melhor solução.
Nessa noite penso que ficou como que "anestesiado" e não houve discussão nenhuma. Acho que não fazia ideia que a minha decisão era irreversível e claro, não sabia do envolvimento que já tinha havido entre mim e o Luís.
Simplesmente agarrou numa mala de viagem e começou a arrumar roupas para levar para a outra casa de campo que tínhamos. Fiquei assustada como é óbvio. Ele era "louco" e imprevisível.
Não dormi nessa noite.
Sabia perfeitamente o que ia acontecer. Aquela família era um bocado assustadora.
Naquela madrugada, em que fui chamada de urgência ao refúgio da Sílvia, perplexa, quase nem a reconheci. Tinha ido ao cabeleireiro, fez um corte radical, muito moderno. Roupa nova. Achei-a muito mais bonita, mas a tentar que não percebesse o desespero em que se encontrava. Aquele retiro, o que mais tarde confirmei, tinha apenas um único fim. Que o Luís lhe ligasse, lhe pedisse desculpa e fosse ter com ela e que lhe dissesse que tinha sido tudo um mal entendido. Que a amava, que tinha saudades. Era isso que pretendia. Como não aconteceu, ligou-me desesperada, porque mais ninguém sabia e queria esclarecer muitas coisas que lhe iam pela imaginação. Todos os pormenores, que eu claro não lhe podia contar...Para não a magoar e tentar (sim, era verdade) que ela resolvesse tudo com ele.
Esperou-me num parque, cujas indicações me tinha dado, e mostrou-me o hotel em que estava. Na praia, com vista para o mar. Fomos a um bar (ainda aberto áquelas horas da madrugada) e conversamos um pouco. Sobre nada do que me tinha levado lá. Só me dizia, com muita calma, tentando fazer-me sentir "abaixo" da condição dela (era licenciada e tudo!), que por vezes temos que mudar o visual e tal para nos sentirmos melhor e que eu devia fazer o mesmo. Dava-me dicas e tudo. E eu ouvia, estava curiosa onde ía chegar aquela conversa.
Fomos literalmente postas fora do bar, dada a avançada hora da madrugada.
Levou-me para o quarto e aí sim começou a sua transformação.
Se o Luís me tinha ligado, se estávamos em contacto, se estava preocupado com ela... "Porque não me ligou ainda?"
Eu disse-lhe que sim , que me tinha ligado, que me tinha perguntado se eu sabia onde ela estava.
Na verdade isso aconteceu, no entanto não estava minimamente preocupado com ela. Achei-o muito frio, em relação aos sentimentos pela Sílvia. Só me tinha ligado milhões de vezes para me dizer que estava com saudades, que me amava, que ía sair de casa e tratar do divórcio assim que ela chegasse.
A Sílvia começou a entrar em "paranóia" . Queria saber todos os pormenores do que tinha acontecido. Se quando nos despedíamos ele me dava beijos "no canto da boca", para ninguém perceber, quantas vezes me ligava, em que dias e como nos encontrávamos. Do que falávamos, etc. Bombardeou-me.
Mas a imagem que guardo daquela noite, foi quando me pediu em soluços, completamente desfigurada: " Olha, liga-lhe, não lhe digas que estás aqui comigo, e deixa-me ouvir o que te diz e como te fala!"
Meu Deus, fiquei sem fala!
Já sabia, que quando lhe ligasse me ia chamar amor, que me ia dizer que não podia viver sem mim...Desculpei-me e recusei. Disse-lhe que não era capaz. Para não me pedir isso. Implorou, chorou, que se eu não o queria fazer era porque estávamos mais próximos do que o que lhe tinha contado.
Depois de lhe ter contado mais algumas coisas do que queria ouvir, disse-lhe que precisava de ir à casa de banho. Levei o telemóvel disfarçadamente e enviei sms ao Luís. Que lhe ia ligar, mas para ele saber que ela estava a ouvir. Que não podia evitar.
Deixei que me pedisse mais vezes e lá liguei. No telefonema disse-lhe onde ela estava, que precisava dele e que ele devia ir ter com ela. Assim foi.
Despedi-me dela. Eram 8 da manhã, estava atrasada para o trabalho e para levar os meus filhos à escola. Desejei-lhe a ela ( e a mim) que se entendessem.
Afinal , eu também tinha que resolver a minha vida. E era para isso que eu precisava de arranjar forças.
Pelo caminho, liguei ao Luís e disse-lhe "Vais ter uma surpresa, ela está muito bonita! E adora-te! Vê lá o que fazes!".
Não posso deixar de contar alguns pormenores das 3 semanas antes dos primeiros dias de Janeiro. Eu e o Luís vivemos realmente momentos únicos e muito intensos. Ficam as "memories".
A Sílvia andava muito entusiasmada, porque o Luís não saía da empresa. Trabalhava a 20 Kms, mas arranjava sempre serviço para a zona e todos os dias lá estava. Já acontecia isto antes de estarmos pela primeira vez, eu é que não me apercebi. Ele nunca tinha gostado da família dela. Ela comentava isso comigo. Que ele já aceitava muito bem a família dela.
Depois de termos estado foi muito pior. O meu coração batia de cada vez que o via entrar. Fazíamos tudo para estarmos sós, para nos agarrarmos. Foi mesmo um escape , pelo menos para mim, de tantos anos de falta de paixão.
Fomos maus, muito maus.
Combinamos um fim de semana á Serra da Estrela, mas fizemos com que fosse a minha cunhada a organizar tudo. Ela tratou de tudo. Com o meu marido e com a minha sogra.
Foi um fim de semana que nunca vou esquecer. Alugamos 2 casinhas de madeira, mas de manhã, como tanto o meu marido como a minha cunhada eram mesmo daquelas pessoas que se levantam à noite, saíamos de manhãzinha e tomávamos o pequeno almoço juntos. Não, lá nunca estivemos juntos. Só mesmo a paixão dos pequenos toques. Houve um dia, quando nos vínhamos embora que chorámos como duas crianças atrás de uma das casas, que não aguentávamos ficar longe um do outro. Que tínhamos ciúmes das noites passadas com outras pessoas.
Num dos fins de semana de Natal, saímos com os meus filhos. Fomos à discoteca. Nem o meu marido nem a minha cunhada quiseram ir. A minha menina ( a Rita com 10 anos foi dormir com a avó). Quando saímos da discoteca fomos tomar o pequeno almoço a uma estação de serviço de auto estrada. Eram estas coisas de criança que alimentavam a paixão que sentíamos.
Na passagem de ano, como é óbvio eu andava completamente fora de mim. Trabalho, a minha cabeça era um rodopio a pensar o que ia acontecer, porque ìa, tinha que acontecer. Aquele stress andava-me a matar.
Combinámos todos com um casal amigo e toda a família irmos jantar à praia.
Eram 6 horas da tarde e sem que algo o fizesse prever, quando estava às compras num hiper, senti que ia rebentar, perdi a visão. Estava com a minha filha. Chamaram a ambulância. Levaram-me para o centro de saúde. Tinha a tensão arterial altíssima. Quando me levaram de ambulância para outro hospital que ficava a 30 Kms, pedi para deixarem a minha filha com a minha sogra. Já ninguém queria ir jantar fora. Exigi, com muito esforço que fossem. O meu marido, que nisso era impecável (e ainda hoje é) foi ter comigo ao hospital. Nunca me abandonou quando (só) por motivos de saúde achava que era preciso.
E foram. Quando ia na ambulância, a soro e com um médico comigo recebi um telefonema do Luís : "Amor, o que tens?". Chorava muito. Tranquilizei-o. Que estava melhor.
Fiz tudo o que pude para ficar boa rápido em poucas horas. Pedi por tudo quando a tensão desceu um pouco para que me deixassem ir. Que me ia portar bem. Deixaram. A minha doença foi diagnosticada: Crises de pânico. Fazia todo o sentido.
Eram 23 horas. Se me despachasse ainda íamos a tempo de pelo menos lhes fazer companhia. A praia ficava a 100 Kms.
Passei por casa. Tomei um banho. Maquilhei-me ( coisa que não é hábito fazer), estava muito pálida. Olhei-me ao espelho e achei-me linda. Vesti um vestido preto, lindo, estilo Audrey Hepburn, que tinha guardado e que nunca tinha usado. Uma pequena écharpe verde seco, sapato alto preto e um casaco preto.
Ninguém já me esperava. Quando entrámos, todos se levantaram e me vieram dar muitos beijos. Todos me adoravam e eu com aquele peso na consciência. Só notei depois que o Luís não estava. Vi-o segundos depois sair da casa de banho, com os olhos vermelhos. Quando me deu 2 beijos de bom-ano, disfarçadamente disse-me ao ouvido. "Estás tão linda!"
Pronto.
Não havia mais maneira (não faz parte do meu feitio) esconder das pessoas o que se passava. Questionei o Luís para o caso de alguém saber. Disse-me que também ele precisava de acabar com um casamento que não lhe dizia nada, que me amava, que era comigo que queria ser feliz e blá, blá, blé , essas coisas que se dizem.
A Sílvia, a minha cunhada, trabalhava comigo. Tínhamos um negócio de família (da parte deles, eu era apenas a esposa, cunhada e nora) do qual já tinha deixado bem claro que queria sair após o divórcio que afinal nunca me ajudaram a concretizar. Aliás, tinha sido para isso que ela para lá tinha ido, para se inteirar do negócio, que eu liderava há anos, para que eu pudesse sair.
Passado o Natal e Ano Novo (penso que dia 6 ou 7 de Janeiro de 2006) eram umas 6 da tarde, chamei a Sílvia ao café que havia ao lado da empresa.
Não lhe contei todos os pormenores, óbvio, mais para não a ferir. Disse-lhe que se passava algo entre mim e o marido. Que eu andava muito carente e não sabia o que sentia. Pedi-lhe por tudo, se amava o Luís para o encostar à parede e para o desculpar. Ele na verdade não me deixava em paz. Telefonava milhões de vezes para a empresa e se fosse ela a atender desligava, se fosse eu colocava o telemóvel ao lado do cd com a "nossa" música (que vou postar aqui).
Ela riu-se de mim. Não gostei. Estava -me a ser tão difícil ter aquela conversa com ela e ela riu-se de mim, da minha honestidade. Porque eu na altura adorava aquele homem. Estava apaixonada. Sim, apaixonada, não era amor. Mas queria que ela lutasse e o roubasse. Era dela, não era meu.
Usou a expressão, no gozo :" Não me digas que achas que ele está apaixonado por ti?"
Eu só disse: " Ok, faz como entenderes, pelo menos tirei um peso de cima"
Telefonei ao Luís e disse-lhe que lhe tinha contado tudo mais ou menos. Pareceu-me meio chateado. Como já tínhamos falado disso, achei-o com medo, e disse-lhe isso. Disse-me que era só porque devíamos ter falado mais a sério como havíamos de fazer. Não lhe liguei mais. Preferi. Ia esperar para ver.
No dia seguinte, ela não foi trabalhar. Ligou para os irmãos, que ia estar fora 4 ou 5 dias.
Até aí não sabia o que se tinha passado. Estava à espera que o Luís me dissesse algo. E disse, passadas umas horas. Que na noite antes, quando chegou a casa, ela lhe perguntou o que se passava entre nós e ele respondeu simplesmente que "Sim, eu gosto muito dela". Não dormiram e na manhã seguinte discutiram o que iam fazer. Ela tinha entendido o que lhe havia pedido no dia antes.
Pediu-lhe que ficasse com a filha e que ela ia de férias para um local que ninguém haveria de saber. Que levava apenas o telemóvel para não ficar incontactável. Contou-me ele.
Só nós três sabíamos o que se passava.
O meu ainda marido, a minha sogra, o meu cunhado interrogavam-se sobre o que se passava.
Desde o dia que fiz amor com o Luís nunca mais estive com o Alexandre (o meu marido).
Aguardava que a Sílvia regressasse para me ajudar ou me dar alguma luz. Mas isso aconteceu mais rápido que o que alguém possa imaginar.
Foi a mim que ligou, em perfeito pânico, às 4 da manhã da primeira noite de "férias"... E eu fui prontamente ter com ela e ajudá-la. Estava a 70 Kms da minha casa. Só me pediu:
"Por favor, não te demores, preciso de ti, rápido!"
Dei uma desculpa qualquer ao Alexandre, que por acaso nessa noite estava em casa (andávamos mal e dessa vez nunca quis fazer as pazes, não podia fazer amor com 2 homens), disse-lhe que a irmã estava mal com o marido e que ia ter com ela. Só me perguntou "mas porquê tu?". Não lhe dei resposta e fui ter com ela.
A música que vou postar aqui era "a nossa música". Hoje deprime-me e entendo que realmente a música mexe muito com as pessoas quando se sentem infelizes.
Sim. Traí o meu marido. Apesar de não considerar que o traí. A ele e à minha cunhada. A culpa não foi toda minha. Andava desesperada. Precisava de ajuda para me conseguir divorciar. Pedi-a à minha sogra e à minha cunhada 1 ano e tal antes de tudo acontecer. Que sim senhor, que me iam ajudar. Tudo mentira. Não aguentava mais as noites em branco à espera que ele chegasse. Um fedor a álcool e tabaco. Sempre 5, 6 , 7 da manhã. Não pregava olho toda a noite. Às vezes era ele a deitar-se e eu a acordar os meus filhos para os levar para a escola e para ir trabalhar. Ele ficava a dormir. Chegava para lhe fazer o almoço e acordá-lo e claro, as discussões de sempre. Estavamos sem nos falar 2, 3 dias. Depois ele pedia-me desculpa. Quase sempre pedia para os filhos assistirem. "Eu gosto tanto da vossa mãe, não sei porque faço estes disparates...desculpas-me? Prometo que nunca mais saio à noite e deixo de beber". Sim, 2 dias ( no máximo) não saía. Mas depois, continuava tudo igual. Aguentei 3 anos esta vida, sempre do mesmo jeito, sempre igual. Os meus filhos davam dó. A mim diziam " vai correr tudo bem", à irmã ( com 7 anos na altura) diziam "Sabes Rita, fica no teu quarto, faz como nós há anos. Os adultos têm destas coisas, não chores..." Coisas do género.
Tinha vergonha da minha vida e como milhares de mulheres ( com famílias bem vistas na sociedade) escondia de todos o que se passava. Pedi-lhe o divórcio milhões de vezes, mas perante o choro de criança dele cedia sempre.Só desabafava com a minha sogra e com a minha cunhada. Eram a minha esperança. Iam tentar ensiná-lo a viver sem mim.
Atento a estes desabafos e tendo conhecimento deles em casa, talvez à noite na cama, estava o marido da minha cunhada. Eu bem reparava que ele me olhava de uma maneira estranha.
Foi quem despoletou tudo. Ainda hoje lhe agradeço.
Antes do Natal, fizemos uma reunião de família numa casinha de campo que tínhamos (hoje habitação do meu ex).
Fomos levar umas coisas para lá e não sei como, ficamos sozinhos. Eu e o Luís (o meu cunhado). Só sei que me sentei à lareira (na noite antes tinha havido cenas em casa durante a noite). Ele sabia, de certeza, pela minha cunhada, porque eu tinha-me queixado a ela que já nem queria fazer aquela reunião.
Disse-me que sentia que eu estava muito infeliz e que não sabia explicar mas que só pensava em estar comigo. Fizemos amor ali à lareira. Meu Deus, era tudo tão errado, mas sabia tão bem.
Sentia-me feliz, amada, não era amor o que sentia (hoje sei perfeitamente), mas ao mesmo tempo sentia-me a pior pessoa do mundo. E culpava o meu marido. Porque me tinha abandonado há anos? Sentia-me mais puta com ele que com o meu cunhado.
Assim 1 vez por semana, quando chegava às 4 ou 5 da manhã e eu fingia que dormia, acordava-me porque lhe apetecia fazer amor. Se eu dissesse que não ( ele metia-me nojo, tenho tanta pena de o dizer, não tomava banho, não lavava os dentes, fumava 3 ou 4 maços por dia) partia portas (não era bater portas, era partir portas), partia tudo o que lhe aparecesse à frente. Eu acabava porque cedia. Fingia. Pelos meus filhos. Sentia-me uma puta. Aí sim, sentia!
Acho que nos últimos 5 anos de casada nunca o beijei( tenho a certeza que as putas não beijam os clientes). Era assim com o meu marido.
Com o Luís era bom demais. Sentia-me uma adolescente apaixonada. Os toques, os olhares.
A culpa era muita, mesmo assim. Passados 2 ou 3 dias, falei com os meus flhos (deixei a Rita que tinha apenas 10 anos de fora, claro). O Miguel tinha 17 anos e o Francisco 15 ou 16. Eram (e ainda são agora) os meus melhores amigos. Chorei tudo com eles e contei-lhes como me sentia feliz e ao mesmo tempo tão mal. Apoiaram-me e só me pediram para ser honesta com todos, que haveria de haver uma solução com o tempo. Combinámos deixar passar o Natal e o Ano Novo para me ajudarem a pedir definitivamente o divórcio. Agora é que era incapaz de viver mais com o que foi meu marido durante 18 anos.
Foi neste chat que tudo começou.
A minha vida até aí resumia-se a trabalho, casa, filhos e nos intervalos a "fugir" literalmente de toda a espécie e feitio da espécimen que se chama Homem. Tinha na altura 36 apetecíveis anos, para uma divorciada de fresco. Dão-me sempre 20 e tal anos e põem as mãos na cabeça quando vou á universidade com o meu filho mais velho. Coisas do tipo: "A tua mãe é que tem que vir assinar (quando tinha só 17 anos), não pode ser a tua irmã". É das coisas que ainda hoje me dá um enorme gozo! Acho que sou perfeitamente normal, não sou nenhuma Gisele Bundchen, mas tenho os meus encantos certamente.
"Faz isso...escreve, vai-te fazer bem!"
Foi o princípio do fim do que mal tinha começado. Uma Sms, que na altura, me passou ao lado. Tola, pensei que me estava a ajudar e a preocupar-se comigo.
Já lá vão 2 anos. Hoje estou feliz, acho. Encontrei outra pessoa, que me ama imenso, que diz que morre por mim, se preciso e que não sabe se aguenta se eu morrer.
Mas este blog é mesmo um Dark Book. Haveria quem lhe chamasse um livro em branco, para escrever o que me desse na real gana...Mas não, é mesmo para escrever o meu passado negro, que me causa pesadelos, as minhas angústias, frustrações, que ninguém sabe ( a não ser as minhas vítimas e ao mesmo tempo carrascos).
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