Segunda-feira, 25 de Agosto de 2008

Noite longa e de mentira...

Naquela madrugada, em que fui chamada de urgência ao refúgio da Sílvia, perplexa, quase nem a reconheci. Tinha ido ao cabeleireiro, fez um corte radical, muito moderno. Roupa nova. Achei-a muito mais bonita, mas a tentar que não percebesse o desespero em que se encontrava. Aquele retiro, o que mais tarde confirmei, tinha apenas um único fim. Que o Luís lhe ligasse, lhe pedisse desculpa e fosse ter com ela e que lhe dissesse que tinha sido tudo um mal entendido. Que a amava, que tinha saudades. Era isso que pretendia. Como não aconteceu, ligou-me desesperada, porque mais ninguém sabia e queria esclarecer muitas coisas que lhe iam pela imaginação. Todos os pormenores, que eu claro não lhe podia contar...Para não a magoar e tentar (sim, era verdade) que ela resolvesse tudo com ele.

Esperou-me num parque, cujas indicações me tinha dado, e mostrou-me o hotel em que estava. Na praia, com vista para o mar. Fomos a um bar (ainda aberto áquelas horas da madrugada) e conversamos um pouco. Sobre nada do que me tinha levado lá. Só me dizia, com muita calma, tentando fazer-me sentir "abaixo" da condição dela (era licenciada e tudo!), que por vezes temos que mudar o visual e tal para nos sentirmos melhor e que eu devia fazer o mesmo. Dava-me dicas e tudo. E eu ouvia, estava curiosa onde ía chegar aquela conversa.

Fomos literalmente postas fora do bar, dada a avançada hora da madrugada.

Levou-me para o quarto e aí sim começou a sua transformação.

Se o Luís me tinha ligado, se estávamos em contacto, se estava preocupado com ela... "Porque não me ligou ainda?" 

Eu disse-lhe que sim , que me tinha ligado, que me tinha perguntado se eu sabia onde ela estava.

Na verdade isso aconteceu, no entanto não estava minimamente preocupado com ela. Achei-o muito frio, em relação aos sentimentos pela Sílvia. Só me tinha ligado milhões de vezes para me dizer que estava com saudades, que me amava, que ía sair de casa e tratar do divórcio assim que ela chegasse.

A Sílvia começou a entrar em "paranóia" . Queria saber todos os pormenores do que tinha acontecido. Se quando nos despedíamos ele me dava beijos "no canto da boca", para ninguém perceber, quantas vezes me ligava, em que dias e como nos encontrávamos. Do que falávamos, etc. Bombardeou-me.

Mas a imagem que guardo daquela noite, foi quando me pediu em soluços, completamente desfigurada: " Olha, liga-lhe, não lhe digas que estás aqui comigo, e deixa-me ouvir o que te diz e como te fala!"

Meu Deus, fiquei sem fala!

Já sabia, que quando lhe ligasse me ia chamar amor, que me ia dizer que não podia viver sem mim...Desculpei-me e recusei. Disse-lhe que não era capaz. Para não me pedir isso. Implorou, chorou, que se eu não o queria fazer era porque estávamos mais próximos do que o que lhe tinha contado.

Depois de lhe ter contado mais algumas coisas do que queria ouvir, disse-lhe que precisava de ir à casa de banho. Levei o telemóvel disfarçadamente e enviei sms ao Luís. Que lhe ia ligar, mas para ele saber que ela estava a ouvir. Que não podia evitar.

Deixei que me pedisse mais vezes e lá liguei. No telefonema disse-lhe onde ela estava, que precisava dele e que ele devia ir ter com ela. Assim foi.

Despedi-me dela. Eram 8 da manhã, estava atrasada para o trabalho e para levar os meus filhos à escola. Desejei-lhe a ela ( e a mim) que se entendessem.

Afinal , eu também tinha que resolver a minha vida. E era para isso que eu precisava de arranjar forças.

Pelo caminho, liguei ao Luís e disse-lhe "Vais ter uma surpresa, ela está muito bonita!  E adora-te! Vê lá o que fazes!".

 


publicado por darkbook às 12:22
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